segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Os dois lados

Brasileiro, Laiane, eu, Cotta (acima) e Aziz em um dos planos que
mais me agrada, e que deve ir até o corte final. Foto: Ana Lee

"O primeiro corte de Lara tem muito de ruim que um primeiro corte pode ter. A abertura ainda tateia seu caminho, a música busca seu melhor encaixe, a ordem das sequências não é a ideal, o ritmo apressado às vezes foge da proposta. Hoje, parece um piloto arrojado em primeiro contato com carro veloz e uma pista sinuosa, com algumas retas, muitas curvas e raros pontos de ultrapassagem. Ele não conhece tão bem os momentos exatos em que deve reduzir, e não sabe até quando deve acelerar. Mas os erros de início fazem parte. Vamos seguir trabalhando para melhorá-lo."

"O primeiro corte de Lara tem tudo que existe de positivo em dar liberdade para o montador e em ter o diretor fora da ilha de edição. A influência televisiva de Pazos trouxe não só rapidez para o processo, como opções que eu seria incapaz de pensar numa primeira versão, e talvez até na última. Mesmo escolhas que com certeza não vou usar, aliadas à sinceridade sem rodeios de Pazos, me fizeram refletir sobre o filme como um todo. Esse primeiro corte é embrionário como qualquer outro, com a diferença que ele serviu, como poucos, para expandir as opções e o potencial do filme. Vamos seguir trabalhando para melhorá-lo."

São duas maneiras de se observar o primeiro corte de Lara, mas é com a segunda que vamos dar continuidade ao processo. Feliz natal a todos.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O tamanho de Lara

Ontem fui somar o tempo de cada sequência, de acordo com os 67 planos ordenados, sequência a sequência. O filme está um pouco mais longo do que visualizava, com 12min40s, sem créditos, o que deve ir pra algo entre 14min20s e 14min40s com eles. Mas isso só em teoria.

Essas são anotações do filme montado em papéis, entre rabiscos e impressos. São a base para Pazos, mas ele está com outras observações, sozinho na ilha de edição, onde ainda não fui, como combinado. Existe um contato, um diálogo para tirar uma dúvida ou outra, mas tem sido pequeno. Acho melhor poupar o debate para quando nos aproximarmos do corte final, o que imagino para daqui a, pelo menos, um mês.

Em compensação, devemos ter um esboço de Lara até a sexta-feira (21), quando ele entra de férias e quando começo a me programar para ir diariamente à Uesc, a partir de 2 de janeiro.

Com que tamanho o filme vai estar? Com quanto a ser mudado? Com quanto de surpresas? Depois de amanhã devemos ter uma reposta mais precisa.

Aziz focaliza Rafa Lopes no bar, uma das cenas ainda não finalizadas.
Foto: Ana Lee

Ps - Música latina
Para quem se interessa por música latina e suas variações, CH Straatmann, baixista do Retrofoguetes com quem fizemos o contato para ter acesso à trilha sonora de Lara, disponibilizou recentemente seu single Efecto Vertigo. Com o mesmo nome do disco que será lançado em março, a música está disponível para download no http://www.chstraatmann.com. Vale uma escutada.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

"Ninguém nunca me pediu pra ser carinhoso"

E a montagem do filme começou hoje.

Depois de ver o bruto duas vezes, revi mais outra no final de semana, agora com anotações a respeito de cada plano. Além desse material de cinco páginas, enviei para Roberto Pazos observações sobre as 11 sequências, e terminei com 68 Pt. Screen, por ordem, de como visualizo o filme decupado e montado. Do S1P1 (Sequência 1, Plano 1) até o S11P2, o último antes dos créditos finais.

Isso poderia soar excessivamente limitador para alguns montadores, mas deixamos claro que as referências são apenas guias, e que será maravilhoso Pazos tentar outros caminhos, que podem acrescentar ao universo do filme, o que considero possível também porque as anotações dele foram feitas sem conhecer as minhas.

Isso sem falar da agilidade, já que seria incapaz de fazer um primeiro corte em menos de três semanas, enquanto Roberto ficou de me presentear com um corte já na sexta-feira. Mas, antes de criar expectativas que não poderão ser cumpridas, adianto que acho improvável o filme ter um corte final antes do final de janeiro. E depois disso ainda temos a finalização de áudio, vídeo, autoração de DVDs... Sem pressa.

Design
Na sexta-feira, antes de tomar notas, revi material com Saul Mendez (Design Gráfico). Em um dos momentos mais divertidos do filme até agora, mostrava a ele um plano que sempre vi como tragicômico e amoroso. Mas, em um take que com certeza não usaremos, além de tragicômigo e amoroso, nosso protagonista usou uma fala que fez Saul citar Bela Lugosi, um dos maiores ícones dos filmes de terror. Com direito a imitação. Há tempos não ria tanto.

Mais tarde, no final de revisão, ele veio com uma ideia do filme que fiz questão de dizer que ela era apenas pano de fundo. Quando voltamos às artes que Saul fez, tentei resumir a ideia.

- A simplicidade é por aí, mas o filme é carinhoso, Mendez.
- Ninguém nunca me pediu para ser carinhoso. Pelo menos não uma arte carinhosa.
- Se desafie, vá.

Horas mais tarde, em meio a uma cerveja, mandei mensagem com outra referência, que nos agrada um bocado. “Bem lembrado. Ele consegue ser carinhoso também”.

Hoje, tenho a impressão que Saul, Roberto e essa última referência são parecidos, pelo menos até certo ponto. Indelicadezas e reacionarismos à parte, os três têm algumas das melhores características do cara old school, e são melhores que suas aparências ou famas carrancudas. Só que nem todo mundo percebe.

Roberto Pazos, old school com fama de mau, mas do bem. Foto: Ana Lee

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Os planos que o diretor não faz

Como acontece com qualquer coisa que envolva chuva, pontualidade, muitas pessoas e Brasil, é natural acontecer mudança de planos durante a gravação, como narro no texto do videogame. Mas existem outros planos que surgem durante a gravação, que melhoram o filme, e que não têm mérito nenhum do diretor. A preferência por um roteiro técnico bem detalhado (com descrição de planos, enquadramentos, movimentos de câmera e duração dos planos) pode engessar, mas me deixa mais seguro, e não impede a mudança de ideias, o que aconteceu várias vezes durante o processo.

Na primeira cena que gravamos, por exemplo, pretendia enquadrar rosto de atriz emoldurado pelos pés, mas os pés pareciam as orelhas de um coelho. Até que ouvi a sugestão de Laiane (Ass. de Direção e Continuísta). “Que tal se a gente fizer um plano com a câmera um pouco mais para cá? Pode ficar mais sensual”. Ficou mais sensual e mais bonito.

Na mesma cena, depois de gravarmos todos os planos, falei com Aziz (Dir. de Fotografia). “Faça o plano que você quiser, Victão”. Ele fez um movimento de câmera que, embora não garanta usar, culmina com uma imagem belíssima, provável no corte final. Quando fomos para a praia, o que por si só já era uma mudança de planos, o fato se repetiu duas vezes.

Primeiro com Arthur Freitas, que sugeriu um plano que mantém espírito do filme e nos dá outra opção, e depois com o próprio Aziz, quando repeti a fala anterior e ele veio com um plano que desde o início eu não queria fazer, mas que de um ângulo diferente pode funcionar. Como também deve funcionar o último plano que fizemos.

Feita já perto da meia-noite do domingo, a imagem envolvia sangue e trazia com ela dois problemas. O primeiro é que sangue cenográfico mancha, o segundo é que não queríamos machucar ninguém. Só que o plano era necessário. A solução veio com ideia de Roberto Pazos, que teoricamente nem precisava estar mais no set, pois já tinha cumprido o papel de garçom na sequência do bar. E resolveu o problema.

Por ordem, Cotta, Cristiane, Caio, Laiane e Aziz. Foto: Ana Lee

Montagem
Falando nele, oficializamos hoje processo de montagem, de uma maneira que jamais imaginei fazer, mas que deve funcionar.

Mando todas as orientações, mas deixo-o livre para fazer como preferir, durante uma semana. Então ele entra de férias, e vejo o material com outro montador (a confirmar na segunda), com quem darei prosseguimento à montagem. Se o que Roberto montar convencer, independente de ser como planejei ou não, ótimo. Se não, ele entende as mudanças.

Dentro de uma já rígida ideia de montagem, essa distância e essa liberdade devem fazer bem ao filme.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Videogame nas gravações

Equipe desfalcada no Outeiro, em Ilhéus. Foto: Ana Lee
Menos de 24 horas antes de gravarmos Lara, fechamos uma parceria com a NuProArt, de Victor Aziz e Cristiane Santana, já devidamente creditados. Mas o processo envolveu tanta coisa que preferi fazer uma cronologia, que começa na quarta (05.12) e vai até o domingo (10.12), quando demos o último "corta".

Quarta-feira – 05.12
À tarde tento organizar detalhes de cronograma e roteiro técnico, horas antes de ter uma baixa. Eline Luz, presente desde segundo teste de câmera e que assumiu a direção de fotografia do ensaio, diz não ter condições físicas e mentais de participar do filme. Justificativa é válida, falo com Flávio Rebouças sobre quem poderia substituí-la, uma opção é descartada, a outra pede tempo para pensar.

Quinta-feira – 06.12
Termino de editar um vídeo que um dos personagens vê dentro de Lara e, próximo do meio-dia, volto a conversar com Flávio, que fala sobre possíveis problemas que teremos com a luz em Ilhéus. À tarde envio roteiro técnico e cronograma de filmagens definitivo. À noite, na maratona de rever filmes bacanas, sinto vontade de mudar um dos planos da cena de abertura, mas tinha prometido que aquele roteiro seria o definitivo. Continuamos sem assistente de fotografia.

Sexta-feira – 07.12
“Olha o e-mail, bro” é o bom dia do celular, às 7h, com uma mensagem de Flávio. Há algumas semanas ele sofreu uma pequena lesão no joelho que tinha feito a gente desistir de usar a steadicam (aparelho que faz a câmera não tremer enquanto caminhamos com ela). Mas o e-mail agora diz que, graças a um pisão em falso, ele não tem mais condições de estar no filme. Isso na véspera das filmagens. Sem assistente, sem diretor de fotografia e sem cinegrafista, ligo para Roberto Pazos. “Preciso trocar uma ideia pessoalmente contigo. Urgente. Pode ser?”

Pego emprestado carro de irmão e chego na Uesc, onde explico situação e faço convite a Pazos, que aceitaria de bom grado, desde que não fizesse um show justamente no sábado à noite. Pensamos em Victor Aziz e, dada a urgência, proposta indecente é feita por telefone mesmo. Ele aceita. Referências, planos e ideias, normalmente debatidos por semanas ou meses, são discutidos em uma tarde. À noite, uma cerveja.

Sábado – 08.12
Chegamos no Cine Santa Clara e começamos a fazer a luz. Quando ligamos o que é necessário, o disjuntor não suporta. Tentamos duas, três, não sei quantas opções, já que nessa hora deixo tudo para Aziz, enquanto converso com Cotta e elenco. Começamos meia-hora depois do esperado, mas filmamos o programado com atraso de poucos minutos.

Cena da tarde (foto) agrada bastante e é finalizada com quase meia-hora de antecedência, depois vamos jantar, um jantar que não me desce bem. Luz demora, calor consome, azia destrói, planos são cortados por tempo, mas sobrevivemos.

Domingo – 09.12
Como combinado, chegamos antes das 10h ao Cine Santa Clara, onde gravaremos o restante das cenas no cinema, mas dá 11h e cinema permanece fechado. Não conseguimos falar com Vital Gomes (o projecionista), com quem estávamos no dia anterior e com quem tínhamos marcado de novo. Então desistimos, pelo menos por enquanto, e vamos para a praia, onde o sol está absurdo e onde o som não ajuda, mas me parece o melhor improviso. Equipe concorda. Sem rever imagens, impressão é ter ficado melhor do que o pensamento inicial.

No entanto, ainda temos um plano que é difícil de ser feito fora de ideia original. Visitamos algumas casas que talvez se encaixem nela, mas não encontramos e voltamos ao cinema, onde conversamos com Vital Gomes sobre o que aconteceu pela manhã, ele justifica sua ausência, e sugerimos gravar no fim da noite, o que ele topa. Partimos para o Spetus, filmamos a sequência do bar, e voltamos ao Cine Santa Clara, onde a última sessão acaba às 22h45min, quando ainda temos que, para ser bem polido, debater com gerente a mudança de planos e o porquê de filmarmos aquela hora. Ele libera e gravamos o plano que falta, finalizado às 23h30min.

Momento nerd
Não dá para dizer que todo mundo pulou de felicidade no fim das gravações, até porque nem havia energia pra isso. Verdade também que pouca coisa é tão decepcionante quanto ver uma imagem que na câmera era linda e depois mostra seus defeitos quando projetada numa tela maior. Mas quase nada supera a alegria interna de ver, no visor da câmera, imagens que trouxeram um sorriso a mim, a Aziz ou a alguém da equipe que está atrás da câmera, e que, nos melhores casos, farão o mesmo com o filme pronto.

Uma analogia com essa sensação, e que provavelmente está longe de ser a melhor, seria com o videogame. Aquele momento em que você está jogando, muito próximo da morte ou do game over, mas aí aparece um continue e você volta para o jogo, feliz da vida.

Quando estava chegando em casa, já sozinho e perto de 1h da manhã, ainda pensei num “acabou, porra”, mas logo percebi que não fazia sentido e que a montagem nem tinha começado ainda. De qualquer forma, levaremos alguns continues para ela.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Making of, o quarto e gente bacana

Após duas semanas sem texto, as notícias chegam por atacado.

A começar pela equipe, que viu Victor Brasileiro migrar para o som direto, e que ganhou dois nomes. O Still tem olhos e mãos de Ana Sales, enquanto o posto de Maquinista é de Leo Carillo, irmão de nossa produtora, Camila Bahia, em brodagem no sentido literal da palavra.

Na véspera de fecharmos os novos reforços, rolou um papo bem produtivo com Jean Paul na Ícone. Voltei a rever equipamentos e, mais importante, a trocar uma ideia com alguém que, além de um ex-chefe e um cara bacana, tem algumas horas a mais de experiência.


Ainda sobre a pré-produção do filme, ontem fui com Flávio Rebouças (Fotografia) a locações de duas cenas, que filmaremos próximas ao centro de Ilhéus, e visitamos três opções de quarto, ficando com a última. As quatro cenas que se passam na casa de Igor, nosso protagonista, serão feitas na casa de Nina Maria, essa simpatia que nos cede o espaço.

Assim que Flávio subir os vídeos, incluindo aí momentos que passariam por making of de ensaio, prometo compartilhar imagens por aqui.

Palace
Depois de vários nãos, e um número ainda maior de faltas de retorno, tivemos um sim.

Com agradecimento especial a Pablo Nascimento, o novo amigo de Lara é o Itabuna Palace Hotel. Ambos são gente fina de longa data e, logicamente, já estão na página dos Parceiros.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O último tratamento

Em Do Goleiro ao Ponta-esquerda, por ser um documentário e um TCC, a formatação do roteiro foi diferente. Já Nunca Mais Vou Filmar, onde o bairro era personagem e influenciava ações e reações dos personagens, teve um bocado de mudanças depois que fomos para o ensaio in loco. Mas Lara, com algumas visitas a locações e a pouco menos de um mês para filmagens, tem agora um último tratamento do roteiro, oficializado no sábado, o simpático 10/11/12.

Em tese, é ótimo finalizá-lo com essa antecedência, especialmente para a equipe. Assim, todo mundo tem mais tempo para trabalhar, o que é essencial para um time em que todos acumulam funções na vida real.

O mais difícil pra mim é não voltar ao roteiro, já que isso significaria, provavelmente, querer modificá-lo. Mas uma hora é necessário separar o perfeccionismo do preciosismo.

Imagino que manter uma distância de uns dias vá fazer bem. Vou retornar a roteiro técnico não como alguém que o visita todo dia, e sim como alguém que sente saudades. Com uma visão menos influenciada pela imersão no processo e mais influenciado pelas ideias do grupo.

De qualquer forma, permanecem as conversas com todos os setores (direção, elenco, produção, som, arte, fotografia) e segue a busca por parceiros. A diferença é que a base evoluiu para um roteiro definitivo.

Ps: Na foto, rabiscava o texto da apresentação, que foi impresso. Admiro quem consegue escrever roteiros à mão.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Planos, assassinato e novos amigos

Com uma experiência bem maior, Tiago Cavalcanti tentou me alertar a respeito de Nunca Mais Vou Filmar, quando estávamos próximo das filmagens. “Você vai precisar regravar cenas, você vai precisar regravar áudio. Você vai precisar mudar tudo que está definido hoje. Na prática, é assim que os filmes funcionam”.

Embora processo de NMVF tenha fluído bem, e embora desvirtue a fala original do Master (como o chamo), bem mais polida, não esqueci a ideia.

Na manhã de segunda-feira, após assunto rondar minha mente desde o final de outubro, conversei com três pessoas, todas ligadas direta ou indiretamente ao filme. Todas defendiam opinião diferente do programado, todas defendiam a mudança de data para filmagens. Veio a reunião, a mudança foi proposta e aceita.

Existe a angústia que se prolongará nas próximas semanas, mas é bem menor que o alívio somado e sentido pela maioria da equipe. A ansiedade já foi avisada de que existe algo mais importante que ela, que é a saúde do filme. E ele passa bem.

Fazendo contas
Pelo pouco que as sinopses informam dá para perceber que não gosto de dizer detalhes da história, mas como é possível que alguém tenha feito as contas ou olhado elenco, explico.

Hoje o filme tem só sete personagens porque um deles foi assassinado. Roberto Pazos continua sendo o nome ideal para Raul, mas Raul se não se mostrou essencial para o filme. A cena poderia ficar bonita, mas pareceu gorda. 16 planos foram resumidos em um.

Novos amigos
Horas antes da reunião, Lara ganhou novos amigos. A Susy Roosli e sua Órbita Expedições, localizada a poucas ruas de duas de nossas locações, um muito obrigado. A você que está em dúvida, vale uma olhada.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Quem faz o filho?

Serei eternamente grato a alguns diretores, por causa de filmes que dirigiram ou por escritos que deixaram, quando não os dois casos. Mas indo para o terceiro curta, o que equivale no máximo a um engatinhar no cinema, é inevitável perceber que algumas coisas mudaram quando o gostar de filmes ganhou a companhia do dirigi-los.

Em Nunca Mais Vou Filmar, por exemplo, acho a música tão fantástica que brincava, a respeito da chamada de cartaz: “Nunca Mais Vou Filmar, uma trilha sonora de Thiago Ferreira”. Dois dos planos mais bonitos do filme, e que ainda salvaram a montagem e o ritmo, foram idealizados por David Campbell, no meio das gravações. A última sequência de caminhada, responsável por uma dor de cabeça de três meses, só foi resolvida por Roberto Pazos. Lucas Lacerda e Bruna Scavuzzi estão melhores do que Téo e Sara eram no papel, e têm uma sintonia que dificilmente conseguiria com outros dois atores, mesmo que igualmente talentosos.

Assim, me constrangeria de ver o filme ao lado de algum deles (e de restante da equipe que não cito para não alongar demais o texto) e, na hora dos créditos finais, ver projetado “um filme de Leandro Afonso”. “História e direção de” me soou mais justo na época, e me soa ideal agora, no processo que envolve Lara.

Há uns três meses, com o jeito despretensioso e seco que tem, um amigo foi certeiro.
- E agora não são mais só dois personagens – eu disse.
- São quantos? Quatro?
- Não. Onze.
- Porra! É um épico?

Hoje, são sete personagens.

Em conversa no final de semana passado, Roberto Cotta não aliviou. “Eu sei o que você quer e pra onde você quer ir. Eu tô é te tirando de sua zona de conforto”. Percebi o que não tinha percebido, roteiros técnico e literário foram simplificados, graças também a esse desconforto.

Isso sem citar o tanto que Camila Bahia ajudou ao trazer quase todo o time que temos hoje, e sem falar de Arthur Freitas, que lá atrás sugeriu a adaptação de conto. Embora pouco ou nada dele ainda resista, serviu para desviar atenção do roteiro a que me dedicava na época para uma ideia que, hoje, se mostra melhor.

Graças a eles e a outros (entre os mais recentes, Ícone, Uesc, Comunika Press, Marta Bahia, Erika Cotrim e Edmilson Afonso), Lara vai existir.

Para isso, não me sinto como o pai de um filho sem mãe e sem amigos, sem influência do ambiente e sem mapa astral, que é como às vezes acreditamos que são os filmes e os diretores. Mas me vejo como o pai de um filho cheio de amigos que podem fazer por ele o que, muitas vezes, eu não poderia. Se for pelo bem do menino, o pai não recusa.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O ensaio (ou patos na lagoa)


Sábado tivemos o ensaio com parte do time, o que serviu para juntar ambiente e equipe pela primeira vez desde que o elenco foi fechado.

Enquanto subia as escadas do Cine Santa Clara (principal locação), veio uma sensação estranha, uma espécie de mistura entre gozo e ressaca, ansiedade e prazer contidos. Lembrei de um filme em que um jogador de futebol americano está às vésperas de uma partida importante, no centro do campo de um estádio gigantesco e vazio, onde seu técnico faz uma analogia com um pato na lagoa.

Na superfície, a parte que vemos, um ser tranquilo. Abaixo dela, para manter essa impressão serena, os pés estão a mil por hora.

O que me conforta é o fato de ter sobrevivido a Do Goleiro ao Ponta-esquerda e a Nunca Mais Vou Filmar. Ou seja, se conseguir manter o hábito de fazer filmes, terei que lidar com essa sensação. Por outro lado, me pergunto como outros lidam com isso.

Divagação à parte, com ou sem pés a mil por hora, deixo um obrigado a todo mundo; desde Vital, que nos acompanhou no cinema, até quem ficou para o jogo do Bahia, passando por quem não pôde ir mas acompanha o processo. Quando Lara chegar ao fim, vou inventar outras desculpas para manter esses encontros. Pro pato ficar bem, os pés não podem parar.

Ps1: O nome do filme é Virando o Jogo (2000), de Howard Deutch e com Keanu Reeves, Gene Hackman e Brooke Langton. É provável que a passagem que citei seja um pouco diferente. Não lembro de ter revisto.

Ps2: Gostaria de acrescentar fotos do ensaio, mas no dia não tivemos making of, still ou equivalente. Postar uma imagem do ensaio seria postar uma imagem que pretendemos usar no filme. Para não deixar post vazio, vai uma imagem (Flávio Rebouças) de primeiro bate-papo com câmera; Suellen Souza e Camila Bahia no dia em que também gravamos o vídeo de apresentação. Filmaremos aí do lado.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Do roteiro ao monopólio

Embora todo e qualquer apoio seja bem-vindo, e a expectativa é voltar para eles em breve, hoje temos outros focos.

A começar pelos roteiros. É o momento para fazer as últimas (e geralmente decisivas) mudanças, no que vai ser filmado e em como vai ser filmado. Graças principalmente a essa segunda parte, tento racionalizar o que ver ou rever, porque o que importa agora não são referências, mas referências que tenham a acrescentar a Lara. O que não me impede de, vez ou outra, ver algo por puro prazer. Pode ser que outros pensem diferente, mas o que seria do filme sem ele?

De volta ao o quê e como filmar, hoje eles apareceram em prosa de duas horas com Caio Carvalho, nosso protagonista, e em outro par de horas mais cedo com Roberto Pazos, professor, orientador e responsável por salvar uma sequência inteira de Nunca Mais Vou Filmar, no que foi um dos montadores. Dúvidas e ideias na maioria válidas, especialmente para o período final e vindas dele, que agora também é elenco.

Além de Pazos, que desde o início me parecia tão ideal para papel que relutei em convidar, ganhamos Tayná Borges (assistência de produção) e Laiane Vilas Boas, que se junta a Roberto Cotta na assistência de direção.

Assim a função fica menos penosa, com um misto de distância e experiência (Cotta em BH) com proximidade de elenco, equipe e locação (Laiane em Ilhéus).

Com esses acréscimos, e aí vem uma curiosidade que pareceria imposta se falássemos de uma major norte-americana, o filme está praticamente monopolizado pela Uesc. Em uma cena, entre elenco e equipe, serão 17 pessoas. Todo mundo aluno ou ex-aluno de lá. Gosto disso.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O financiamento

A busca por financiamento de Lara pode não ser a mais comum, mas me parece a natural.

O vídeo, inicialmente, foi feito para ser publicado em site de financiamento coletivo, mas aí ganhamos três problemas. A verba não vem de imediato, parte dela é reduzida graças a uma espécie de corretagem e, caso não consigamos a quantia pedida, ficamos sem nada.

Poderíamos, equipe e parceiros, investir tempo e energia para fazer apenas publicidade alheia, e não um filme. E ele não pode deixar de ser prioridade.

Ps1: Quem quiser, tem acesso a roteiro, projeto e orçamento. Basta entrar em contato. Sem intermediários e sem dificuldades.

Ps2: Semana corrida, com participação em júri da Musa (Mostra Universitária Sul-Americana de Audiovisual), mas com novidades de equipe em breve e por atacado. Esperamos que de parceiros também.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Vídeo

Um dos últimos produtores americanos que acumulou bons filmes, carisma e polêmica em grande quantidade foi Robert Evans, retratado no fantástico O Show Não Pode parar (The Kid Stays in the Picture, EUA, 2002), de Nanette Burstein e Brett Morgen. Mas antes de, entre outras coisas, se envolver com O Bebê de Rosemary (1968), O Poderoso Chefão (1972) e Chinatown (1974), ele queria mesmo era ser ator. Em E agora brilha o Sol (1957), baseado em romance de Hemingway e dirigido por Henry King, executivos queriam demitir Evans, o ator, então aquém de expectativas. Até que Darryl Zanuck, chefe de todo mundo, chegou no set, viu a atuação e disse frase que, quase meio século depois, virou batismo. “O menino fica no filme”.

Essa semana, Lara presenciou um momento Darryl Zanuck.

Nas poucas horas livres, começamos a falar sobre o vídeo no início da semana passada. No resto dessas raridades, geralmente na hora do almoço, Camila Bahia montava. Fez uma primeira versão, achava que precisávamos de mais elenco em tela. Fez uma segunda, achava que precisávamos de mais elenco.

Não tivemos uma terceira versão. Ao mesmo tempo, fiz o papel dos executivos e de Robert Evans, só que sem querer atuar, enquanto Camila Bahia foi Darryl Zanuck. “Léo, você vai aparecer no vídeo. O diretor tem que aparecer no vídeo”.

Em compensação, prometo não aparecer no filme. Ilhéus e o elenco são bem mais interessantes, e parte de ambos pode vista ser abaixo.

Agora é com você, aí do outro lado. São várias as possibilidades de participação, são várias as pessoas que agradecem.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Calma

Ainda seguramos o vídeo com imagens dos dois sábados, e que usaremos para complementar o projeto, mas o motivo é simples.

Essa semana Camila Bahia termina de gravar Bordel. Embora sejam pequenos, os últimos ajustes do vídeo precisam de um tempo cada vez mais escasso. Para se ter uma ideia, é provável que nem o Bahia a gente veja essa semana.

Com o final das eleições, bom é que parte da população volta a ter vida social e, espero, a receber de maneira mais gentil pessoas com projeto de filme na mochila. Em breve, ela ganha um vídeo de um minuto e pouco.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Com sotaque

Hoje temos alguns obrigados e um seja bem-vindo.

Anteontem, a segunda prosa filmada. Da Casa dos Artistas de Ilhéus para o Centro de Cultura de Itabuna. Sem poréns de ansiedade, reunião ou telefonemas sem resposta, continuo achando das partes mais agradáveis de todo o processo.


Em breve, com o milagre da multiplicação do tempo e das funções, Camila Bahia finaliza o vídeo com imagens dos dois sábados. Ideia é postar aqui também. Antes, um valeu para Carol, Eline, Monique e Victor.

Já as boas-vindas, acompanhadas de um muchas gracias com sotaque, é para Saul Mendez, que vai fazer o design gráfico de Lara.

Bróder desde os tempos de Uesc, onde fui seu calouro, é o tipo que mistura esquisitices escatológicas com classicismo hollywoodiano. Referências, simplicidade e competência; El Salvador e Espanha, Goiânia e Ilhéus. Um cara bacana para a equipe.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Andar de bicicleta

Com o bate-papo marcado para as 14h, chegamos antes de meio-dia. A ideia é conversar com Flávio sobre direção de fotografia e o que faremos, mas ele está em reunião. No bar ao lado, desce uma cerveja e ligo para amigo. Ele e amiga não atendem. Tento um terceiro, chega um petisco. 12h30, ninguém. Lembro de NMVF, mentalizo que não somos inéditos nisso. Se teve a primeira, da segunda em diante deve ser mais fácil. É como andar de bicicleta. Mas nem todo mundo sabe andar de bicicleta.

Flávio aparece, Camila aparece, amém. Proseamos, filmamos.

Ontem vi essas imagens, que rodamos sábado, na Casa dos Artistas de Ilhéus. Esse primeiro contato com a câmera é das fases mais agradáveis de todo o filme, especialmente dessa vez, menos cruel. O “será que ele (ela) é o (a) ideal?”, agora, é mais um “ele (ela) é ideal para qual papel?”.

Brenda, Caio, Camilas (Bahia e Nobre), Flávio e Suellen; valeu.
Agora é voltar para imagens, para próxima filmagem, e para a busca por parceiros.

Apresenta
Falando neles, para quem ainda não fez a conexão, a Ícone apresenta Lara. Em breve postamos a marca dela, que permanece com a mania de trabalhar um bocado e ganhar mais prêmios ainda. Semana passada voltou a levar alguns, de novo, no Bahia Recall.

Taí uma galera bacana para se ter no filme. Taí uma galera que sabe, como poucas, andar de bicicleta.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Não é um teste

Lara não vai ter teste de elenco. 

Sei que me referi a ele no post anterior como "teste de câmera", mas a adaptação do termo também não faz sentido. Especialmente para quem tem como lembrança Nunca Mais Vou Filmar, cujo processo pode resumido em três textos - Montagem de teste, Atores e atrizes e Sara e Téo - e que foi bem distinto. Só com audição e muitas revisões percebemos que Bruna Scavuzzi e Lucas Lacerda (foto) eram os que melhor se encaixavam em papéis, mas o processo de Lara pede outra coisa.

Desde o início, roteiro e produção combinam com algo quase stalker, o que começou antes até de oficializar minha volta para o Cacau.

De Salvador e com ajuda do Facebook, perguntava a Camila sobre moças e rapazes da região. Montamos uma lista farta, que foi acrescida com nomes vistos na Uesc e que hoje está do tamanho certo, menor.

Existem dúvidas, mas são diferentes. Já temos algumas ideias e outras certezas, um bate-papo e fechamos o que ainda falta. Lara pede mais intuição. Vamos fazer a vontade dela.

Ps: Nos próximos dias oficializamos parceiro que vai apresentar Lara.