quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Obrigado, prima

Enquanto Lara não tem novidades, e enquanto não encontro tempo para falar sobre filmagens de Habeas Corpus, voltamos no tempo.

Primeiro, adianto que não sou escritor. Isso esclarecido, não dá pra ignorar que Lara nasceu de um conto, mais especificamente da ideia de Arthur (Freitas) adaptar um rabisco que tinha enviado a ele e a um  punhado de amigos.

Embora o filme tenha ficado bem diferente do conto e do que ele imaginava, Lara permanece o único curta que dirigi em que houve uma base escrita anterior ao roteiro.

E pra não dizer que ele foi só mais um texto de diário que ninguém além do autor leu, aí vai. Ele faz parte de um personagem com pseudônimo, mas não me dou bem com batizados e, nesse caso, assino com um temporário sem sobrenome. Espero que suportem até o fim.

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Obrigado, prima

Tô na fila da padaria quando alguém me chama. Definitivamente, eu não quero saber quem é. Os mal humorados deveriam ter um botão para apertar e acender a luz de alerta. Como a marcha à ré, só que com a função do sinal vermelho. Casamentos, flertes, amizades, namoros, casos, inimizades, tudo seria mais fácil se envolvidos identificassem o momento de manter distância. E eu não precisaria responder ninguém uma hora dessas. Mas tem horas que o semáforo tá do lado da gente.

Sua maquiagem minimalista realça o máximo dos olhos escuros. Na altura do ombro, cabelo é liso e contido. Cintura fina acusa sangue latino. Um cruzamento romantizado entre o que visualizo do ideal eslavo e da sul-americanidade indígena. Único porém, à primeira vista, é o péssimo hábito europeu de ser grande. Mas é seu único defeito, o que o torna até bem-vindo. O maior problema da perfeição é a falta de charme. Disso ela não sofre.

- Digaí, meu velho. Já se viu na revista hoje? – diz ele.
Não importa quem é.
- E eu saí na revista hoje?
- Outra vez.
- Mas eu não matei ninguém.
Como quase sempre acontece quando vontade de agradar é mais forte que instinto espirituoso, resposta foi uma porcaria. Mas ele riu, ela também. Ele saiu, ela ficou.
- Pensei que você estivesse com ele.
Ela faz que não com a cabeça. Disfarço flerte com gentileza e dou a vez.
- Obrigada – disse.
- Chile?
- Brasil.
- Você não é de Salvador.
- Sou, sim.
Silenciamos, fila anda, ela é a próxima.
- Argentina?, desconfiei.
- Eu sou de Salvador. Minha mãe que é argentina. E meu pai húngaro.
Acuso surpresa.
- Todo mundo faz a mesma cara.
- Argentina e Hungria não são, digamos, Barra e Ondina, né?!
- Nem Rio e São Paulo.
Chega a vez dela. Estendo minha mão, formalidade é bem-vinda.
- Felícia.
- O nome é menos inusitado.
- O sobrenome é Korontai.
- Agora você ganhou.
Ela recebe o troco e parte.
- Ah, sou Miguel.
- Eu sei quem você é – e se despede.

Com seu aceno vou para casa, onde vasculho redes sociais, encontro-a, mas me contenho. Obviamente, ela está acostumada a afoitos “oi, quero te comer, sua exótica”. A menos que esteja com libido extrema, o que eu não tenho como saber, abordagens ordinárias não vão funcionar. Só cinco dias depois, após cuidar bem dos olhos com visitas diárias à sua versão virtual, falo a verdade. “Procuro um contato profissional e olhe quem encontro! Ou não foi você aquele dia na padaria?”
Conversamos alguns dias pela Internet, sem atropelar nenhuma etapa. Início é com assuntos amenos, para evitar ou diminuir hipotético índice de rejeição. Em dia bacana, sexo vem à tona e fica. Eu e ela já temos um misto de afinidade, admiração e curiosidade pelo outro; ou pelo menos enganamos com impressão de, o que dá no mesmo. Marcamos de sair. De quando chutei Chile e Argentina, já se passaram dez dias. Reencontro vai ser amanhã, um sábado à noite, hora do sexo catarse. Mas só na teoria.
Ísis
Ela nasceu em Itabaiana e vive em Aracaju, mais próximo de lá e da Linha do Equador, de quem ela não consegue fugir. Tem 22 anos, mas parece ter o dobro de menopausa, sofrendo com frio de 32ºC. Desconfio que ela confunda Celsius e Fahrenheit. Não, nem assim entendo como ela faz doce para entrar no chuveiro sem resistência em pleno dezembro de Salvador. Ela é prima, gente fina, atraente, mas isso é bizarro. “Você tem compromisso mais tarde, não se preocupe, é bom que me refresco mais” seria bem melhor que “você sabe que sou friorenta, mas posso me virar”.
Entendo o cortês pedido folgado para que eu seja gentil, e lá vou cumprir a missão, com breve escala onde a conheci. Não que espere, algo bem improvável, uma nova húngaro-argentina. Nada disso. Costumo ir a uma padaria diferente, mas passo nela apenas pela lembrança da senhorita Korontai, que ajuda a visualizar o à noite com ela. Devo demorar para encontro, mas posso entendê-lo como o atraso que a deixa fora do zona de conforto e mais propensa à sedução.
Antes de entrar na padaria, contudo, vejo uma mulher que parece linda, mas ela está longe e de costas, e eu sem óculos. Ou seja, pode ser um homem, pode ser um anão. Chego mais perto, não parece um anão. Pouco de nada menor que eu, soa ideal. De costas e de perto, permanece bonita. Seria uma forasteira da Pituba com ascendência italiana e metida a novaiorquina? Uma descendente de espanhóis que mora em Ondina mas com humanidade de Brotas? Ou uma indie do Rio Vermelho com o cosmopolitismo bem-humorado e desconfiado do Pelourinho?
Largo divagação. A um metro e meio, astigmatismo já não atrapalha. Depois de quadris, coxas e panturrilha, continuo descida e noto algo estranho. As unhas, as pontas dos dedos e o calcanhar, acomodados em sandália rasteira, estão em sintonia, mas uma sintonia do satanás. Os pés vieram de uma orgia da imundície. Em um palmo quadrado, eles mostram o suficiente para qualquer um prever todo o resto, medonho e demoníaco.
Minha cota de sorte acabou aqui. Melhor é dar meia-volta, ir para padaria habitual, comprar a resistência de Ísis e, mais tarde, vislumbrar o sexo de verdade com Felícia. Antes, todavia, me apego à parte superior dos tornozelos. 95% do que beira o sublime. Penso nele, penso nos 95, e olho de novo para os pés, dou uma nova chance. Mas eles continuam fiéis à primeira impressão. São tão feios que nem o êxtase do resto do corpo, nem a overdose do belo que senti, eu percebo mais.
Desisto, vou é embora.
- Miguel!
Ah, meu Deus. Cadê o botão do mau humor? Cadê a marcha à ré? Cadê o sinal vermelho?
- Não vai falar comigo não, é? – continua.
Não é uma estranha. A dona deles, a dona dos pés falantes, é a húngaro-argentina. Meu coração foi apedrejado.
- Olá!
Falamos o mínimo, chega a minha vez de ser atendido. Vamos para lados opostos, reiteramos compromisso de mais tarde e parto. Duas horas depois, não quero rever aqueles pés. Tenho que acidentar minha prima. Por sofrer com frio que me fazia suar, bem que ela merece. Felícia acredita. Obrigado, Ísis.
Alcanço entrada de apartamento com otimismo de ter evitado uma tragédia. Adendo é que esqueci a miséria da resistência. Sem sair, sem mulher, sem graça e sem resistência, e com todas elas em mente, passo dez minutos de casa até o mercado. Enfim encontro a maldita resistência. Pego a fila. Como sempre acontece quando serenidade não ajuda, ela está grande. Só me resta aguardar, criticar o mundo e olhar a vida alheia. Olhar inclusive uma imagem destoante de ambiente. Os óculos enganam astigmatismo e confirmam que ela tem exatamente minha altura. Olhos anis desbotados, cachos castanhos sutis e bem cuidados, desenho fino não excessivo, corpo com o melhor da Bahia. Talvez uma franco-chilena. Ou ítalo-uruguaia. Quem sabe até uma húngaro-argentina. Agora, não interessa. O importante é que ela está de tênis.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Marcelo Bielsa, o acaso e a sanidade

O still de Lara (2013) usado em Garpenberg. Foto: Ana Lee
Última seleção de Lara, que essa semana está em Porto Seguro no Arraial Cine Fest, é para festival com processo bem atípico. O International Random Film Festival, em Garpenberg na Suécia, celebra justamente o caráter randômico, aleatório, a sorte como principal responsável pela seleção dos filmes.

Embora seja um caso específico e talvez até único, vez ou outra sempre me perguntam como os filmes vão ou não para festivais. Até alguns meses, enquanto tinha tempo, fazia um levantamento com dados que podem ajudar a ilustrar a situação.

10 anos de filmes
Lembro bem que a primeira mistura de surpresa com decepção, pelo menos esse ano, foi o Festival Cine a la Calle, em Barranquilla, Colômbia. Foram 250 inscritos e 121 selecionados. Numa das menores concorrências que já vi, num festival que não é tão badalado, Lara ficou de fora. Se mesmo nesse não entrou, imagine nos outros? Mesmo sabendo que não era o último corte, tinha quase certeza que poderiam achar o filme interessante o suficiente pra figurar ali.

Depois, não faltaram casos semelhantes. No Festival de Muqui, foram 150 inscritos e 36 selecionados. No Curta Amazônia, de 139 inscritos ficaram 29. No Festival de Vale do Jacuípe, de 80 restaram 20. São proporções relativamente baixas quando comparamos, por exemplo, com o Olhar de Cinema em Curitiba, que teve 435 inscritos e apenas 8 selecionados na categoria. E mínima quando pensamos em Cannes, que para chegar nos 9 selecionados de curta metragens, teve de ver 3.500 filmes. Se assistir a um filme por dia, preciso de quase 10 anos pra chegar a esse número.

Em todos eles, a resposta foi não. Por outro lado, e pra não perder o foco, outros festivais tiveram um gosto diferente.

Justificativa?
Goiânia Mostra Curtas teve 724 inscritos e 97 selecionados, entre eles Lara na categoria Municípios. Lara também vai para o Arraial Cine Fest, que selecionou 12 entre 108. Lá fora, o Frech-Frivoles Festival, que acontece em Berlim e é dedicado a cineastas iniciantes com filmes que versem sobre o erotismo, escolheu 23 filmes para sua competitiva e Lara foi o único não europeu entre eles. O Festival Cine del Mar, em Punta del Este, teve apenas 24 curtas para a Mostra Competitiva e os únicos dois Brasileiros foram Lara e Nunca Mais Vou Filmar. Já o FestCine Tarapacá, que acontece em Iquique no Chile, viu Lara mas, para a seleção oficial, que teve apenas 12 filmes na competitiva internacional, NMVF que foi o único brasileiro. Caso semelhante aconteceu em Bahía Blanca, onde Lara foi para o Panorama Latinoamericano e NMVF foi para a Seleção Oficial. Em 2012, também na Argentina, no Festival de RosárioNMVF já tinha ido para a Competitiva.

Lembrando desse vídeo, brinquei com amigo sobre a recepção de NMVF. Nesse programa de sátira catalão, as pessoas que falam muito e que falam lentamente são resumidas aos argentinos. Como NMVF é aquele falatório sem fim, talvez ele funcione melhor para esses nossos vizinhos, que selecionaram os filmes em Bahía Blanca e Rosário mas que, como o país está em crise, também precisaram ir para Uruguai e Chile serem jurados de outros festivais, onde selecionaram aquele blábláblá intenso.

Logicamente, não dá pra esse raciocínio a sério. Como não dá pra levar a sério uma pessoa se ela disser que apenas as respostas positivas valem para avaliar o filme, que de cabeça de jurado só sai merda, mas merda é só aquilo que depõe contra a obra dele. É o que presenciamos em muitos casos, é ignorar que outros filmes podem ser tão bons quanto ou até melhores que o seu, é ser presunçoso e egocêntrico, pra dizer o mínimo.

Em outras palavras, (não) respondendo à pergunta de como funciona a seleção para festivais, me parece tão complexa que, nesse caso específico, é melhor a gente simplificar. Você faz o filme, é o que depende de você, da equipe e do acaso. A partir daí, torce e pensa no próximo. É o que faço pra tentar manter a sanidade.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Envelhecendo

Uma impressão imediata sobre ontem, quando pela primeira vez acompanhei uma exibição de NMVFLara juntos (no projeto Quartas Baianas da Sala Walter da Silveira, cá em Salvador).
 
Começa NMVF. Fico no fundo, às vezes saio da sala, às vezes dou as costas e tapo os ouvidos. Uma moça chega, me vê e pergunta se tem mais filmes passando no cinema. Digo que vai ter um outro curta depois. Ela fica mais segundos em pé, em seguida vai embora.
 
Começa Lara, permaneço no fundo. Vejo uma pessoa que sai após parte musicada dos créditos iniciais. Não sei se ela pensou que eram os créditos finais ou se achou que não valia continuar a partir dali. Provavelmente, nunca vou saber.
 
Acaba a sessão, conheço uma pessoa que não só estudou na Uesc como morou no Outeiro, em Ilhéus, locação de uma das cenas de Lara. Dali saio pra cerveja, com a ideia de diminuir o envelhecimento precoce causado pela tortura que é a revisão dos próprios filmes, e vejo duas pessoas dizerem que NMVF envelhece bem. Dá pra desconfiar quando o elogio é apenas gentil, mas não me parece ter sido o caso. A história que você conta não é a mesma que a pessoa ouve, ok, mas é difícil entender como uma revisão causa sensações tão distintas. Difícil e bacana, nesse caso.
 
Mais bacana ainda talvez seja ver pessoa querida terminar o dia muito melhor do que como estava quando nos encontramos. Nessa hora, pouco importa de quem é o mérito maior é dos filmes, da companhia ou da cerveja, ou uma mistura de tudo. Life's a bitch, como diria o outro, mas alguns raros momentos e algumas pessoas mais raras ainda dão a certeza de que ela também pode ser agradável.

Daqui a pouco mais de duas semanas, é a vez de filmarmos Habeas Corpus. Que a chuva de ontem e de hoje em Salvador caia toda até lá. E que tanto o filme como a equipe envelheçam bem.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Mudança de humor

Sábado, 6 horas da manhã, no ponto de ônibus, motorista cavalheiro te oferece, como cortesia e sem possibilidade de recusa, um banho de lama. Como se acordar às 4h50 de sábado de um sábado não fosse suficiente, precisa voltar em casa, jogar água no corpo e chegar com quase uma hora de atraso em trabalho, onde você vai estar só. Se já era difícil chegar em tempo para a sessão de Psicose restaurado no Panorama, a situação fica quase impossível.

Corta para o fim do dia, início do seguinte, quando não só rolou Psicose e um Anthony Perkins hipnotizante, com gente e som que tornaram noite mais agradável. No domingo, após algumas semanas de vazio, sem nenhuma nova exibição prevista, Lara é selecionado para o Cine Riba, festival em Rio Bonito-RJ. E na segunda, boa nova é do Arraial Cine Fest, em Porto Seguro.

Às vezes o titereiro sádico lá de cima só dá risada, mas às vezes ele também sabe vir com efeito surpresa.

Ps1: Desde última atualização, filme foi para festivais em Goiânia e Kôsovo. A lista atualizada de exibições por ser vista aqui.

Ps2: Em Porto, festival é de 1º a 7 de dezembro. Em Rio Bonito, de quinta (7) a sábado (9), essa semana agora.

sábado, 31 de agosto de 2013

O melhor bis

Existem aqueles festivais onde imagino que todo mundo gostaria de exibir seus filmes, e nenhum deles simpatizou com Nunca Mais Vou Filmar ou Lara, pelo menos não até agora.

Por outro lado, existem também aqueles festivais, teoricamente de menor repercussão, com os quais alguns diretores simpatizam e não abrem mão de tentar ir sempre que possível. Em parte por causa de afinidade com ideal do evento, em parte por evento gostar daquele diretor, ou passar a impressão de.

Essa semana, Lara vai para Conservatória-RJ, onde acontece um que se encaixa nos dois casos, o Festival Cine Música.

Primeiro, pelo nome do festival. Se incluir o TCC, dirigi três curtas que juntos têm cinco músicas. Dos 56 minutos que eles somam, 13 têm uma trilha sonora como pano de fundo ou como único áudio. Em média aproximada, a cada quatro minutos de filme, um é musical. Próximo curta, Habeas Corpus terá mais duas músicas.

Já o outro motivo que leva a simpatia pelo festival é seu curador, Hernani Heffner, que ano passado já tinha selecionado NMVF. Conservador-chefe da Cinemateca do MAM do Rio de Janeiro, é um dos cânones da cinematografia brasileira. Infelizmente, único contato que tivemos até hoje se limitou ao e-mail, por onde ele descreveu o Festival de 2013.


O evento prestigia o universo musical e sonoro do filme brasileiro, dedicando a edição deste ano ao tema BRock, enfocando o Rock Brasileiro da terceira geração ou Geração dos Anos 80. O festival também homenageará personalidades e premiará a criatividade dos técnicos e artistas das áreas de música e de som. Além do Troféu Cine Música, o Prêmio Delart de serviços de pós-produção sonora contemplará jovens realizadores com até dois longas metragens na filmografia, e o Curta Light reconhecerá a excelência em criação musical e sonora no universo do curta metragem.

A sede do festival é o cinema Centímetro, réplica dos cinemas Metro do Rio de Janeiro. Lara será exibido no dia 5 de setembro, às 16 horas, na sessão Novos Territórios IA alegria é bem maior que impressão passada por palavras, com seleção feita por uma das maiores autoridades brasileiras em cinema, e em cinema feito no Brasil.

Não vou poder ir, o que definitivamente não me agrada, mas é possível que Roberto Cotta (ass. de direção) vá. Fica aqui a torcida.

Ps1: Ainda em setembro, filme viaja para Sidney, no FLEXIFF, que acontece de 20 a 22.

Ps2: Sobre Hernani Heffner, uma ótima entrevista com ele pode ser lida aqui.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Sydney e o Redtube

Depois de seleção em Punta del Este, última resposta positiva a Lara veio de Sydney, Austrália, onde o filme participa do 11º FLEXIFF – Experimental International Film Festival, que acontece de 20 a 22 de setembro. A lista dos que concorrem ao Prêmio de Melhor Curta pode ser conferida aqui.

O mais curioso do festival é o fato de ele já ter uma data para acabar. Originalmente chamado de The First and The Last Experimental International Film Festival, ou O Primeiro e o Último Festival de Filmes Experimentais, teve início em 2002 e, desde então, tem fim previsto para 2022. Daqui a nove anos, quando completar 20, o festival pretende fazer um catálogo dos filmes e acabar.

Pode-se dizer que a ideia é tudo, menos ordinária.

Já de Berlim, onde o filme participou em julho do 6º Frech-Frivoles Festival, recebi essa semana o certificado, bem diferente de todos os outros.

Como o foco do festival está em filmes independentes ligados ao erotismo, era inevitável que ele tivesse sua especificidade, mas depois que o vi, tive duas impressões.

A primeira é se o filme teria na Alemanha a censura 12 anos, a classificação indicativa brasileira, e a segunda é a sensação de um cartaz Redtube. Embora eu não me lembre de nenhum cartaz Redtube.

Lógico que o filme continua sendo o que é e o que sempre foi dentro de seus 13min46s. Mas o que você, que não viu Lara e provavelmente não entende alemão, visualiza do filme vendo esse cartaz?

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Calma e paciência

Semana retrasada comecei a receber e-mails quase diários sobre um festival onde tinha inscrito Lara, e de onde não tinha tido resposta. Na última terça-feira, os textos começaram a ser diários. Quando olhei o resultado, vi um monopólio argentino. Sem ter filme lá, sem ter como ir, e como não conhecia ou não lembrava de nenhum dos selecionados, deixei de lado. Passei a excluir os e-mails sem abrir.

Em despretensiosa pesquisa mais cedo, vi dois sites uruguaios com citações a “Nunca más voy a filmar”. Entrei neles, confirmei direção. Por acaso, descobri que Nunca Mais Vou Filmar e Lara tinham sido selecionados para o 6º Festival de Cine del Mar, que aconteceu de 3 a 7 de julho no Hotel Conrad de Punta del Este, no Uruguai.

Curioso que o festival teve inscrição complicada, com problemas de chegada dos dois filmes através do correio, e reenvio através de link. Não sabia nem se eles tinham visto ou revisto nada. É possível que retorno do Festival e convite tenham ido para a caixa de spam, e é provável que eu tenha sido incapaz de ler o nome dos próprios filmes entre os selecionados, mas agora pouco importa.

Embora eu não tenha ido, os dois filmes foram e, uma semana depois, entendo que aqueles e-mails diários eram justificáveis. Da próxima vez, espero ter mais paciência para ler os e-mails. E mais calma para ver os selecionados dos festivais onde inscrevo filme.

Placas entregues aos vencedores do Festival esse ano.
Ps: A programação pode ser vista aqui, e a lista de filmes .

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Ilhéus, Berlim e um porém


(Fotos: Renata Sant'Anna)

Choveu muito durante a semana, choveu um pouco antes da exibição, mas o público apareceu em quantidade razoável e a exibição de lançamento de Lara foi bem boa.

Depois da sessão, que aconteceu na Mostra Bahia Adentro junto com outros cinco curtas, tivemos um
bate-papo com Camila Bahia (produtora de Lara e ali como diretora de Bordel), Danilo Umbelino (de O Espelho) e público.

Apesar de curto, rolou uma interação com plateia, onde deu pra ver gente que faz e quer fazer, gente que vê e quer discutir o que viu. Debate só parou porque sessão seguinte já estava prestes a começar.

Dali fui direto reencontrar amigos e cerveja que não via há tempos, mas ainda pude ir ao FeCiBa e ver, entre outros, o ótimo Menino do Cinco (2012), de Wallace Nogueira e Marcelo Matos de Oliveira, filme que desagradou ou pouco agradou tanta gente que me assumi como um advogado dele entre os que encontrava.

Ainda em Ilhéus, não menos válido foi o debate com Sylvia Abreu sobre a nova lei da TV a Cabo, assim como boa parte da transmissão pela internet. Pra quem não pôde ir todos os dias, ela foi um ótimo quebra-galho, e tenho a impressão de que foi o maior avanço do Festival desse ano.

Falando neles, no sábado rolou a segunda exibição de
Lara, a primeira internacional, no Frech-Frivoles, em Berlim. Evento dedicado a diretores independentes e com filmes ligados de alguma forma ao erotismo, Google traduziu para o português como “Desobiediente-Frívolo”, enquanto o inglês me mostrou um mais sacana “Naughty-Frivolous”. Entre os 24 filmes da seleção oficial, Lara foi o único não europeu. Porém foi não poder estar presente, mas não me incomodo de passar por ele novamente.


quarta-feira, 22 de maio de 2013

Cabô

Suellen Souza (Lara), onde também acontece
o lançamento do filme, dia 8. Foto: Ana Lee
Da Uesc o filme saiu na quinta (8) com porém de sincronização só perceptível em casa e sem solução no dia seguinte, quando voltei pra Salvador.

Após quase duas semanas de desencontros, o filme ficou oficialmente pronto ontem, graças a Meire Bispo, Uiran Paranhos e, numa escala mais ampla, à Dimas. Os três já estão creditados na página dos parceiros.

O corte final de Lara já está a caminho e, embora a versão com melhor qualidade só vá estar disponível em Blu-Ray, a do lançamento tem uma qualidade decente.

Agora que a finalização acabou, é a vez de fazer a versão definitiva do filme rodar. Se você ainda não está sabendo, ou se quer relembrar, primeira parada vai ser aqui.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Exatos seis meses depois

Suellen Souza, também conhecida como Lara. Foto: Ana Lee.

Daqui a 24 dias, a programação vai se repetir. Sábado, Ilhéus, Cine Santa Clara. A diferença é que a locação, exatos seis meses depois de primeiro dia de filmagem,  virou lugar da estreia do filme.

No próximo dia 8 de junho, 17h30min, Lara tem primeira exibição oficial, dentro da mostra Bahia Adentro do FeCiBa, o Festival de Cinema BaianoA sessão acontece com mais cinco curtas, incluindo aí Bordel, TCC de Camila Bahia, bróder e nossa produtora.

A entrada é gratuita e a ideia é bater um papo, na sala e fora dela, com quem aparecer. O convite tá feito.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Lara existe

As ilhas de edição da Uesc estão paradas há duas semanas, o que prejudica não só Lara como todas as turmas de Comunicação que têm matérias lá. E quando tudo voltar ao normal, logicamente, a prioridade será dos alunos.

O que, por outro lado, não impede o filme de seguir seu rumo.

No dia 1º, Teddy Paranhos finalizou As outras, música mixada por alguém que só então descobri ter o mesmo sobrenome de nossa principal locação em Ilhéus. Desconfio que nem todo mundo sabe, mas o nome de batismo de Léo das Galinhas é Leonardo Outeiro.

Dois dias depois, Saul Mendez fez o que serviu de base para a arte principal de Lara, que pode ser vista abaixo e ficou pronta ontem, quando o filme também ganhou uma versão apresentável.

Quando digo apresentável, me refiro ao que pode ser feito com um PC e o Sony Vegas, mas me refiro ainda a um 1920x1080, Full HD, com definição bacana. Com imagem e som, cor e volume finalizados.

Embora versão definitiva e futuramente disponível só em blu-ray esteja emperrada na Uesc, já dá pra dizer que Lara existe. E o cartaz também.

terça-feira, 19 de março de 2013

Aniversário de um mês

No dia 18 de fevereiro, quando voltaram as aulas da Uesc, Lara teve que sair de lá.

Embora uma música permaneça como pendência, ela já esteve mais longe. Depois de violino, percussão, guitarra e baixo, só falta o teclado de Naiara Gramacho, que no período queimou a mão.

Lógico que quero finalizar o filme, fazer o lançamento, vê-lo rodar em festivais. Todo mundo envolvido também. Mas é preciso paciência e sorte pra conciliar horários sempre de pelo menos três pessoas (compositor, músico e estúdio), tudo na brodagem. Ainda mais, como no caso de Naiara, quando a saúde se envolve com uma panela homicida.

Como ia dizendo no início do texto, ontem fez um mês que Lara saiu da Uesc. E em comemoração decidi lançar o teaser, que pode ser visto aqui. Ou abaixo.


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

As outras

Camilla Nobre, Brenda Matos e a música quase pronta. Foto: Ana Lee.

Na segunda-feira (11) de carnaval, após tarde de surfe (pra ele) e fotos (pra mim), eu e Teddy, o do bordel, fomos trocar uma ideia a respeito da trilha sonora de Lara.

Prosa acabou perto de meia-noite, depois de algumas músicas-referência, divagações no violão, e quatro vídeos-guia, para o caso de ele não lembrar do que tinha tocado. Entre os sons da noite rolou até um riff de sax, com a boca.

Na quarta-feira (13) de cinzas deixamos o Cacau e voltamos a Salvador, de quem sentia falta e com quem presenciei a gravação da base para essa música (provisoriamente intitulada As Outras), que aconteceu domingo (17).

A base da guitarra, feita em casa por Teddy, ganhou a companhia do teclado de Naiara Gramacho, que ainda fez o riff do que o senhor Paranhos visualiza para um instrumento de metal, provavelmente o sax.

Anteontem tive que voltar a Itabuna/Ilhéus/Uesc para cuidar de pequenos ajustes referentes à cor de alguns planos do filme, mas também anteontem Teddy acompanhou a gravação da percussão, com Diogo Flórez, e do violino, com Edgar Felipe. Embora sua intenção fosse não me empolgar, ele só falou bem dos caras e do som.

Agora, com trabalho e faculdade que ocupam o dia inteiro, Teddy deve gravar o restante da trilha sonora (baixo, teclado e guitarra) no final de semana. Depois vem a mixagem, finalização e o envio até aqui, onde acrescentamos a Lara e, aí sim, ela pode dizer que está pronta para fazer as malas.

Pode quebrar a cara, não receber o convite de ninguém, cansar de ver possíveis destinos baterem a porta em sua cara. Mas vai fazer as malas.

Ps: A gravação da trilha sonora original merece um agradecimento especial a Léo (Leonardo Produções), o Léo das Galinhas, numa referência à casa encravada entre prédios no meio do Caminho das Árvores em Salvador, onde fica o estúdio que hoje abriga As Outras. De uma gentileza sem tamanho, taí um cara a quem o filme será eternamente grato.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

98% no caminho pro inferno

Agora que a montagem acabou, e que já tivemos alguns dias de tratamento de som e imagem, o que é que falta pra o filme ficar pronto?

Na terça-feira (5), Emiron Gouveia, gerente de laboratórios do curso de Comunicação da Uesc, me perguntou se eu não poderia finalizá-lo antes do carnaval, o que disse ser possível desde que uma última pendência pudesse ser acrescentada depois. Ele compreendeu, mas fora modificações com luz e cores em cinco ou seis planos, a parte visual deve ser fechada em poucos dias (úteis, o que não inclui o carnaval). Assim como aconteceu na montagem, a finalização de vídeo está bem mais rápida que imaginava.

Equipe quase completa. Foto: Ana Lee
Sobre o áudio, nosso último detalhe é uma trilha sonora composta por Teddy Paranhos para a cena do bar, que ele demorou a perceber.

- Quando puder, me manda a cena do bar.
- O filme tá todo aí, Teddy.
- Tá?
- Tá. A cena do bar é de 5min a 6min30s.
- Aquilo é um bar?
- É.
- Pensei que fosse um bordel.

Assim que essa música ficar pronta em Salvador, ela viaja para cá e voltamos ao estúdio. Lá onde encontramos Samuel Touchê, no segundo andar do pavilhão Adonias Filho, no final de um corredor geralmente pouco iluminado, que culmina em sala hoje com ar condicionado quebrado.

Com essas características mais eficientes que muita dieta, resolvi batizar o percurso de Highway to Hell, música de ACDC cuja tradução foi adaptada no título do texto de hoje.

Quando retornarmos a ele, tudo indica que seja para dizer "o filme acabou". E pra citar de novo a mesma música ACDC, "ei, mama, tô no caminho para a terra prometida".

sábado, 26 de janeiro de 2013

Uma mulher quando acorda

Silvana Berilo (arte) e Suellen Souza (elenco) antes das cenas
que gravamos no quarto de Igor, o personagem. Foto: Ana Lee.

Hoje, Lara é uma mulher quando acorda.

Bonita ou não, não está atraente como pode, ou como gostaria de estar na hora de um encontro a dois. Por outro lado, indenpendente de ser o momento do bom dia ou do boa noite, de agraciada ou não com beleza, sua essência visual não vai mudar.

Em outras palavras, em processo inacreditavelmente rápido para o que imaginava, a montagem do filme acabou ontem, depois de 19 dias úteis.

Um obrigado a Roberto Pazos e a Bruno Rocha pela parceria, e a Jean Paul, João Daniel, Nicolau Guerreiro, Roberto Cotta, Ronald Souza, Saul Mendez, Suellen Riccio e Victor Aziz pelas críticas durante o processo.

Agora é a vez das finalizações, do tratamento de áudio e vídeo.

Agora que ela já acordou, a gente vai deixar
Lara pronta também pro flerte.

sábado, 19 de janeiro de 2013

15 dias e duas versões depois

Saul Mendez, Suellen Souza, a mão de Victor Aziz e o diretor. Foto: Ana Lee
Se chegamos à conclusão de que seria melhor para o filme entregar anotações e deixar Roberto Pazos sozinho na ilha de edição nos primeiros dias, com Bruno Rocha, que assumiu a montagem com as férias de Pazos, o trabalho é diferente.

Ele faz questão de não mexer em um quadro sem que eu esteja lá, o que torna o trabalho menos fluido, só que mais preciso. Após a primeira semana com Roberto, Bruno e eu nos encontramos mais dez dias e chegamos a duas versões de Lara.

Se a ideia original do filme já dava margem para experimentações, as inevitáveis mudanças de plano impossibilitaram a fidelidade ao roteiro e potencializaram as opções de montagem, que nos deu dois resultados distintos, que mal se conhecem. Uma versão “crescente” e outra “decrescente”.

Na segunda-feira (18), mostrei a base das duas a um amigo e uma amiga em quem confio e que não conheciam o roteiro, e eles divergiram em quase tudo. “Mas eu não li o roteiro”, alegou ela. “Por isso que sua opinião é importante”.

Já Roberto Cotta, quando viu o corte próximo da ideia original, não aliviou no “fiquei preocupado com o que vi” e no direto “hoje, não gosto do filme”. Mas em contato com a alternativa, “tá vendo, voltei a gostar do filme, acho que ficou no grau, tudo na medida certa”.

Ontem preferi misturar um pouco do que mais nos agradava nessa versão “decrescente” elogiada por Roberto com a base da ideia original “crescente”, que foi o que trouxe ontem para casa, e que ainda não tem críticas. Mas em breve elas vão aparecer por aqui.

Cartaz
Saul Mendez tem trabalhado um bocado e, incluindo as variações, já fez sete cartazes. Da ideia original já evoluiu bastante, e uma ideia a princípio maluca também caiu bem. Ficou de em breve entregar um mais detalhado, que também vai aparecer por aqui.