quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Marcelo Bielsa, o acaso e a sanidade

O still de Lara (2013) usado em Garpenberg. Foto: Ana Lee
Última seleção de Lara, que essa semana está em Porto Seguro no Arraial Cine Fest, é para festival com processo bem atípico. O International Random Film Festival, em Garpenberg na Suécia, celebra justamente o caráter randômico, aleatório, a sorte como principal responsável pela seleção dos filmes.

Embora seja um caso específico e talvez até único, vez ou outra sempre me perguntam como os filmes vão ou não para festivais. Até alguns meses, enquanto tinha tempo, fazia um levantamento com dados que podem ajudar a ilustrar a situação.

10 anos de filmes
Lembro bem que a primeira mistura de surpresa com decepção, pelo menos esse ano, foi o Festival Cine a la Calle, em Barranquilla, Colômbia. Foram 250 inscritos e 121 selecionados. Numa das menores concorrências que já vi, num festival que não é tão badalado, Lara ficou de fora. Se mesmo nesse não entrou, imagine nos outros? Mesmo sabendo que não era o último corte, tinha quase certeza que poderiam achar o filme interessante o suficiente pra figurar ali.

Depois, não faltaram casos semelhantes. No Festival de Muqui, foram 150 inscritos e 36 selecionados. No Curta Amazônia, de 139 inscritos ficaram 29. No Festival de Vale do Jacuípe, de 80 restaram 20. São proporções relativamente baixas quando comparamos, por exemplo, com o Olhar de Cinema em Curitiba, que teve 435 inscritos e apenas 8 selecionados na categoria. E mínima quando pensamos em Cannes, que para chegar nos 9 selecionados de curta metragens, teve de ver 3.500 filmes. Se assistir a um filme por dia, preciso de quase 10 anos pra chegar a esse número.

Em todos eles, a resposta foi não. Por outro lado, e pra não perder o foco, outros festivais tiveram um gosto diferente.

Justificativa?
Goiânia Mostra Curtas teve 724 inscritos e 97 selecionados, entre eles Lara na categoria Municípios. Lara também vai para o Arraial Cine Fest, que selecionou 12 entre 108. Lá fora, o Frech-Frivoles Festival, que acontece em Berlim e é dedicado a cineastas iniciantes com filmes que versem sobre o erotismo, escolheu 23 filmes para sua competitiva e Lara foi o único não europeu entre eles. O Festival Cine del Mar, em Punta del Este, teve apenas 24 curtas para a Mostra Competitiva e os únicos dois Brasileiros foram Lara e Nunca Mais Vou Filmar. Já o FestCine Tarapacá, que acontece em Iquique no Chile, viu Lara mas, para a seleção oficial, que teve apenas 12 filmes na competitiva internacional, NMVF que foi o único brasileiro. Caso semelhante aconteceu em Bahía Blanca, onde Lara foi para o Panorama Latinoamericano e NMVF foi para a Seleção Oficial. Em 2012, também na Argentina, no Festival de RosárioNMVF já tinha ido para a Competitiva.

Lembrando desse vídeo, brinquei com amigo sobre a recepção de NMVF. Nesse programa de sátira catalão, as pessoas que falam muito e que falam lentamente são resumidas aos argentinos. Como NMVF é aquele falatório sem fim, talvez ele funcione melhor para esses nossos vizinhos, que selecionaram os filmes em Bahía Blanca e Rosário mas que, como o país está em crise, também precisaram ir para Uruguai e Chile serem jurados de outros festivais, onde selecionaram aquele blábláblá intenso.

Logicamente, não dá pra esse raciocínio a sério. Como não dá pra levar a sério uma pessoa se ela disser que apenas as respostas positivas valem para avaliar o filme, que de cabeça de jurado só sai merda, mas merda é só aquilo que depõe contra a obra dele. É o que presenciamos em muitos casos, é ignorar que outros filmes podem ser tão bons quanto ou até melhores que o seu, é ser presunçoso e egocêntrico, pra dizer o mínimo.

Em outras palavras, (não) respondendo à pergunta de como funciona a seleção para festivais, me parece tão complexa que, nesse caso específico, é melhor a gente simplificar. Você faz o filme, é o que depende de você, da equipe e do acaso. A partir daí, torce e pensa no próximo. É o que faço pra tentar manter a sanidade.

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