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Equipe desfalcada no Outeiro, em Ilhéus. Foto: Ana Lee |
Quarta-feira – 05.12
À tarde tento organizar detalhes de cronograma e
roteiro técnico, horas antes de ter uma baixa. Eline Luz, presente desde
segundo teste de câmera e que assumiu a direção de fotografia do ensaio, diz
não ter condições físicas e mentais de participar do filme. Justificativa é
válida, falo com Flávio Rebouças sobre quem poderia substituí-la, uma opção é
descartada, a outra pede tempo para pensar.
Quinta-feira – 06.12
Termino de editar um vídeo que um dos personagens
vê dentro de Lara e, próximo do meio-dia, volto a conversar com Flávio, que
fala sobre possíveis problemas que teremos com a luz em Ilhéus. À tarde envio
roteiro técnico e cronograma de filmagens definitivo. À noite, na maratona de
rever filmes bacanas, sinto vontade de mudar um dos planos da cena de
abertura, mas tinha prometido que aquele roteiro seria o definitivo.
Continuamos sem assistente de fotografia.
Sexta-feira – 07.12
“Olha o e-mail, bro” é o bom dia do celular, às 7h,
com uma mensagem de Flávio. Há algumas semanas ele sofreu uma pequena lesão no
joelho que tinha feito a gente desistir de usar a steadicam (aparelho
que faz a câmera não tremer enquanto caminhamos com ela). Mas o e-mail agora diz que, graças a um pisão em
falso, ele não tem mais condições de estar no filme. Isso na véspera das filmagens. Sem assistente, sem
diretor de fotografia e sem cinegrafista, ligo para Roberto Pazos. “Preciso
trocar uma ideia pessoalmente contigo. Urgente. Pode ser?”
Pego emprestado carro de irmão e chego na Uesc,
onde explico situação e faço convite a Pazos, que aceitaria de bom grado, desde
que não fizesse um show justamente no sábado à noite. Pensamos em Victor Aziz
e, dada a urgência, proposta indecente é feita por telefone mesmo. Ele aceita.
Referências, planos e ideias, normalmente debatidos por semanas ou meses, são
discutidos em uma tarde. À noite, uma cerveja.
Sábado – 08.12
Chegamos no Cine Santa Clara e começamos a fazer a luz.
Quando ligamos o que é necessário, o disjuntor não suporta. Tentamos duas,
três, não sei quantas opções, já que nessa hora deixo tudo para Aziz,
enquanto converso com Cotta e elenco. Começamos meia-hora depois do esperado, mas
filmamos o programado com atraso de poucos minutos.
Cena da tarde (foto) agrada bastante e
é finalizada com quase meia-hora de antecedência, depois vamos jantar, um jantar que não me desce bem. Luz demora, calor consome,
azia destrói, planos são cortados por tempo, mas sobrevivemos.
Domingo – 09.12
Como combinado, chegamos antes das 10h ao Cine
Santa Clara, onde gravaremos o restante das cenas no cinema, mas dá 11h e cinema permanece fechado. Não conseguimos falar com Vital Gomes (o projecionista), com quem estávamos no dia anterior e com quem tínhamos marcado de novo. Então desistimos, pelo menos por enquanto, e vamos para a praia, onde o sol está
absurdo e onde o som não ajuda, mas me parece o melhor improviso. Equipe
concorda. Sem rever imagens, impressão é ter ficado melhor do que o pensamento inicial.
No entanto, ainda temos um
plano que é difícil de ser feito fora de ideia original. Visitamos algumas
casas que talvez se encaixem nela, mas não encontramos e voltamos ao cinema,
onde conversamos com Vital Gomes sobre o que aconteceu pela manhã, ele justifica sua ausência, e sugerimos gravar no fim da noite, o que ele topa.
Partimos para o Spetus, filmamos a sequência do bar, e voltamos ao Cine Santa Clara, onde a última sessão acaba às 22h45min, quando ainda temos que, para ser bem polido, debater com gerente a mudança de planos e o
porquê de filmarmos aquela hora. Ele libera e gravamos o plano que falta,
finalizado às 23h30min.
Momento nerd
Não dá para dizer que todo mundo pulou de
felicidade no fim das gravações, até porque nem havia energia pra isso. Verdade também que pouca coisa é tão decepcionante quanto ver uma imagem que na câmera era linda e depois mostra seus defeitos quando projetada numa tela maior. Mas
quase nada supera a alegria interna de ver, no visor da câmera, imagens que
trouxeram um sorriso a mim, a Aziz ou a alguém da equipe que está atrás
da câmera, e que, nos melhores casos, farão o mesmo com o filme pronto.
Uma analogia com essa sensação, e que provavelmente está
longe de ser a melhor, seria com o videogame. Aquele momento em que você
está jogando, muito próximo da morte ou do game over, mas aí aparece um continue
e você volta para o jogo, feliz da vida.
Quando estava chegando em casa, já sozinho e perto de 1h da manhã, ainda
pensei num “acabou, porra”, mas logo percebi que não fazia sentido e que a
montagem nem tinha começado ainda. De qualquer forma, levaremos alguns continues
para ela.
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