sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Os planos que o diretor não faz

Como acontece com qualquer coisa que envolva chuva, pontualidade, muitas pessoas e Brasil, é natural acontecer mudança de planos durante a gravação, como narro no texto do videogame. Mas existem outros planos que surgem durante a gravação, que melhoram o filme, e que não têm mérito nenhum do diretor. A preferência por um roteiro técnico bem detalhado (com descrição de planos, enquadramentos, movimentos de câmera e duração dos planos) pode engessar, mas me deixa mais seguro, e não impede a mudança de ideias, o que aconteceu várias vezes durante o processo.

Na primeira cena que gravamos, por exemplo, pretendia enquadrar rosto de atriz emoldurado pelos pés, mas os pés pareciam as orelhas de um coelho. Até que ouvi a sugestão de Laiane (Ass. de Direção e Continuísta). “Que tal se a gente fizer um plano com a câmera um pouco mais para cá? Pode ficar mais sensual”. Ficou mais sensual e mais bonito.

Na mesma cena, depois de gravarmos todos os planos, falei com Aziz (Dir. de Fotografia). “Faça o plano que você quiser, Victão”. Ele fez um movimento de câmera que, embora não garanta usar, culmina com uma imagem belíssima, provável no corte final. Quando fomos para a praia, o que por si só já era uma mudança de planos, o fato se repetiu duas vezes.

Primeiro com Arthur Freitas, que sugeriu um plano que mantém espírito do filme e nos dá outra opção, e depois com o próprio Aziz, quando repeti a fala anterior e ele veio com um plano que desde o início eu não queria fazer, mas que de um ângulo diferente pode funcionar. Como também deve funcionar o último plano que fizemos.

Feita já perto da meia-noite do domingo, a imagem envolvia sangue e trazia com ela dois problemas. O primeiro é que sangue cenográfico mancha, o segundo é que não queríamos machucar ninguém. Só que o plano era necessário. A solução veio com ideia de Roberto Pazos, que teoricamente nem precisava estar mais no set, pois já tinha cumprido o papel de garçom na sequência do bar. E resolveu o problema.

Por ordem, Cotta, Cristiane, Caio, Laiane e Aziz. Foto: Ana Lee

Montagem
Falando nele, oficializamos hoje processo de montagem, de uma maneira que jamais imaginei fazer, mas que deve funcionar.

Mando todas as orientações, mas deixo-o livre para fazer como preferir, durante uma semana. Então ele entra de férias, e vejo o material com outro montador (a confirmar na segunda), com quem darei prosseguimento à montagem. Se o que Roberto montar convencer, independente de ser como planejei ou não, ótimo. Se não, ele entende as mudanças.

Dentro de uma já rígida ideia de montagem, essa distância e essa liberdade devem fazer bem ao filme.

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