sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Quem faz o filho?

Serei eternamente grato a alguns diretores, por causa de filmes que dirigiram ou por escritos que deixaram, quando não os dois casos. Mas indo para o terceiro curta, o que equivale no máximo a um engatinhar no cinema, é inevitável perceber que algumas coisas mudaram quando o gostar de filmes ganhou a companhia do dirigi-los.

Em Nunca Mais Vou Filmar, por exemplo, acho a música tão fantástica que brincava, a respeito da chamada de cartaz: “Nunca Mais Vou Filmar, uma trilha sonora de Thiago Ferreira”. Dois dos planos mais bonitos do filme, e que ainda salvaram a montagem e o ritmo, foram idealizados por David Campbell, no meio das gravações. A última sequência de caminhada, responsável por uma dor de cabeça de três meses, só foi resolvida por Roberto Pazos. Lucas Lacerda e Bruna Scavuzzi estão melhores do que Téo e Sara eram no papel, e têm uma sintonia que dificilmente conseguiria com outros dois atores, mesmo que igualmente talentosos.

Assim, me constrangeria de ver o filme ao lado de algum deles (e de restante da equipe que não cito para não alongar demais o texto) e, na hora dos créditos finais, ver projetado “um filme de Leandro Afonso”. “História e direção de” me soou mais justo na época, e me soa ideal agora, no processo que envolve Lara.

Há uns três meses, com o jeito despretensioso e seco que tem, um amigo foi certeiro.
- E agora não são mais só dois personagens – eu disse.
- São quantos? Quatro?
- Não. Onze.
- Porra! É um épico?

Hoje, são sete personagens.

Em conversa no final de semana passado, Roberto Cotta não aliviou. “Eu sei o que você quer e pra onde você quer ir. Eu tô é te tirando de sua zona de conforto”. Percebi o que não tinha percebido, roteiros técnico e literário foram simplificados, graças também a esse desconforto.

Isso sem citar o tanto que Camila Bahia ajudou ao trazer quase todo o time que temos hoje, e sem falar de Arthur Freitas, que lá atrás sugeriu a adaptação de conto. Embora pouco ou nada dele ainda resista, serviu para desviar atenção do roteiro a que me dedicava na época para uma ideia que, hoje, se mostra melhor.

Graças a eles e a outros (entre os mais recentes, Ícone, Uesc, Comunika Press, Marta Bahia, Erika Cotrim e Edmilson Afonso), Lara vai existir.

Para isso, não me sinto como o pai de um filho sem mãe e sem amigos, sem influência do ambiente e sem mapa astral, que é como às vezes acreditamos que são os filmes e os diretores. Mas me vejo como o pai de um filho cheio de amigos que podem fazer por ele o que, muitas vezes, eu não poderia. Se for pelo bem do menino, o pai não recusa.

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